Após 2 anos de grandes desafios e restrições às comunidades educativas provocados pela pandemia do covid – 19, levando à necessidade de adaptação a novas rotinas e procedimentos no processo de ensino aprendizagem, eis senão quando, no 3º ano, que se esperava o de retomar à normalidade, uma convulsão emerge na Escola Pública, atingindo alunos, professores, pais e encarregados de educação, assistentes operacionais, assistentes técnicos, técnicos especializados e técnicos superiores.
A gigantesca luta de todos os profissionais da educação tornou-se um dos maiores movimentos sociais ocorridos em Portugal superando largamente as manifestações e greves realizadas nas últimas décadas. Tanto em números, como na diversidade e nas formas inovadoras e não convencionais encontradas para os protestos, como na amplitude e abrangência dos profissionais envolvidos, como ainda, na ampla e permanente cobertura mediática dos meios de comunicação social.
Ainda que durante o 1º período já se tenha assistido a fortes contestações, com greves, concentrações às portas das escolas e uma manifestação em 17 dezembro que contou com a presença de milhares de professores, foi a partir do 2º período que se intensificaram as ações de protesto. Greves, concentrações, marchas, manifestações, acampamentos, vigílias, protestos junto à ponte 25 de Abril, concentrações/assaltos aos aeroportos, petições, idas a Bruxelas, cordões humanos, petições públicas, abaixo-assinados e até uma greve de fome!
Estas múltiplas iniciativas, ao contrário do que era usual num passado recente, não se circunscreveram a momentos pontuais, perduraram durante praticamente todo o ano letivo. Os protestos dos profissionais da educação não parecem ter um fim à vista. Já neste mês foram marcadas greves para o pessoal docente e não docente, para os dias 5 a 9 de junho, a manifestação nacional em 6 de junho (6/6/23) e agora as greves às provas de aferição que se prolonga até 30 de junho, às reuniões de avaliação sumativa dos alunos dos 9.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade e às provas de equivalência à frequência e exames finais do secundário!
Não há história de um ano letivo tão conturbado e turbulento, com tanta falta de paz e tranquilidade. Este clima de instabilidade e de “guerrilha” duradoura entre sindicatos e ministério de educação, num “ping-pong” constante entre a convocatória de greves e o decreto de serviços mínimos. Após, a quantidade enorme de rondas negociais e decorridos tantos meses, a manutenção da situação caótica no final do ano letivo é inaceitável e demonstra inequivocamente que os atuais interlocutores não têm condições para gerar a paz e a tranquilidade, que alunos, professores, a Escola Pública necessitam.
Se os interlocutores não se entendem, não fazendo parte da solução, então que se mudem os interlocutores!
Pedro Gomes Vieira
Sócio n.º 1 e co-fundador da ANVPC