Nos primeiros dias do novo ano, o país saberá qual é a palavra que mais se destacou em 2018. Professor está entre as 10 palavras finalistas pela luta e resistência para a contagem integral do tempo congelado – nove anos, quatro meses e dois dias – que continua em negociações. Há outras palavras candidatas como enfermeiro, outra classe em luta, que reclama aumentos salariais, progressão mais rápida na carreira, contratação de mais profissionais. Assédio é outra palavra nomeada, até porque o movimento “Me Too” colocou o tema do assédio sexual na agenda mundial, privacidade também é candidata pelas novas regras em torno da proteção de dados. Especulação, populismo, extremismo, paiol, sexismo e toupeira também são finalistas. A votação está em curso, termina no último dia de dezembro.
Para César Israel Paulo, docente de Artes Visuais e dirigente da Associação Nacional dos Professores Contratados, a nomeação de professor para palavra do ano é “justa e merecida”. Sempre que reflete sobre os limites da profissão docente, há uma frase de Bertolt Brecht, dramaturgo, encenador e poeta, que lhe vem à memória: “Se não morre aquele que escreve um livro e planta uma árvore, com mais razão não morre o educador que semeia vida e escreve na alma”. “A repercussão do ato educativo tem um larguíssimo espectro, sendo um fator transformador no curto, médio e longo prazo da vida de uma criança, jovem ou adulto”, sublinha.
Professor é uma das profissões em que portugueses mais confiam. Há razões para isso. “No desenvolvimento profissional docente destacam-se limites como os de missão, dedicação, confiança e excelência”, diz César Israel Paulo que, enquanto professor e dirigente de uma organização profissional de docentes, tem tido colegas “brilhantes, que trabalham com maestria, com uma dedicação total à causa pública, com um destacado respeito e carinho pelos seus alunos”. “Ao longo do meu percurso como aluno, cresci como ser humano influenciado por grandes professores com quem me cruzei”, lembra.
“Num momento em que o sistema educativo português sofre uma profunda mudança, protagonizada pelo Projeto de Autonomia e de Flexibilidade Curricular, vemos reforçada essa dinâmica referida por Brecht, assumindo cada vez mais os profissionais docentes como verdadeiramente implicados na adequação do sistema educativo à vida real, transformando as nossas crianças e jovens em verdadeiros cidadãos do seu tempo, reforçando a sua Humanidade, alicerçada nos mais importantes valores civilizacionais”. “Mais do que uma palavra do ano, professor é, e será sempre, uma das nossas palavras de vida”, afirma.
Logo que foram conhecidas as 10 palavras finalistas, o professor Paulo Guinote usou o seu blogue para expressar a sua opinião. “Professor, claro! Ide e votai… não podemos deixar o ‘populismo’ ou o ‘extremismo vencer…”. “A escolha da palavra ‘professor’ significaria mais do que uma simples seleção de um termo muito lido e ouvido na comunicação social. Seria o destaque merecido a uma classe profissional que tem procurado resistir a diversos abusos por parte do poder e que, com bastante responsabilidade, cumpre as suas obrigações, enquanto tenta servir como modelo prático do exercício de cidadania para os seus alunos”, adianta ao EDUCARE.PT.
Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), compreende por que razão a palavra ganhou projeção, uma ampla exposição mediática. Quando se fala nas progressões de carreira na função pública é a classe docente que habitualmente é evidenciada. “É efetivamente uma profissão e condição de reivindicação laboral que a comunicação dá destaque”, diz. Mas não é só isso. Professor, na sua opinião, deve ter sempre aquele significado de missão, aquela importância de ensinar e contribuir para o desenvolvimento de crianças e jovens.
A Palavra do Ano, iniciativa da Porto Editora, pretende “sublinhar a riqueza lexical e o dinamismo criativo da língua portuguesa, património vivo e precioso de todos os que nela se expressam, acentuando, assim, a importância das palavras e dos seus significados na produção individual e social dos sentidos com que vamos interpretando e construindo a própria vida”. A lista vai sendo feita a partir de um trabalho permanente e exaustivo de observação e acompanhamento da realidade da língua portuguesa. Analisa-se a frequência e a própria distribuição do uso das palavras e do relevo e impacto que alcançam, seja nos meios de comunicação, seja nas redes sociais, seja no registo de consultas online e mobile dos dicionários da Porto Editora. Esta escolha tem também em consideração as sugestões dos portugueses no site da iniciativa.
Informações:
www.palavradoano.pt