A passagem de uma Sociedade Agrária para uma sociedade industrial, determinou mudanças na Escola e nos modelos de aprendizagem. Também a emergência da Sociedade de Informação e do Conhecimento tem feito com que a Escola e os processos de ensino/aprendizagem sofram alterações. A população escolar aumentou, os modelos tradicionais de aprendizagem estão a mudar. A escola passou a ser multicultural, ao contrário do que acontecia no passado, em que todos os elementos pareciam ser homogéneos e especificamente orientados para um modelo objetivista, virado para um ensino uniforme:
“o sistema escolar criado no século XIX assentava na ideia de uma aprendizagem passiva. Salas rectangulares, lugares fixos, quadros pretos e estantes de leitura no topo da sala eram pensados para uma transmissão eficaz de conhecimentos por parte do professor, enquanto os alunos se sentavam em silêncio e tiravam apontamentos.”[1]
Assim, enquanto que no passado, as expetativas se centravam mais no caráter moral dos professores, atualmente, as expetativas centram-se, essencialmente, na sua capacidade pedagógica. Apesar de imensos relatórios criticarem a escola e os professores, a primeira continua a ser o principal agente de socialização secundária dos indivíduos, e os segundos continuam a ser depositários de confiança profissional, pessoal e social. As expetativas em relação ao papel do professor têm vindo a alternar-se, ao ritmo da história, entre a calmaria e a mudança. Destes, se espera que utilizem as melhores práticas e ajudem os alunos a aprender competências e atitudes essenciais. Já não chega ser professor amigo e carinhoso (embora estas caraterísticas também sejam pré-requisito para o desenvolvimento de relações genuínas e de confiança), é necessário que faça uso de práticas de ensino eficazes. Já não basta a intuição, a preferência pessoal ou o senso comum, é essencial uma prática de base científica, onde a arte de ensinar se torna uma arte instrumental, baseada na experiência, na competência, no ritmo, na espontaneidade e na sabedoria dos professores.
Atualmente a eficácia do professor passa por estratégias de crescimento profissional, já que as expetativas atuais nada têm a ver com as do passado, espera-se dele um conhecimento curricular, um conhecimento de finalidades, objetivos e valores educacionais. Espera-se que o professor seja um orientador de percursos, um orientador de aprendizagens, que ajuda o aluno a construir o seu próprio conhecimento, a ser independente e auto-regulado, ao mesmo tempo que aperfeiçoa a sua arte de ensinar, ensinando-o a aprender.
Face a expectativas tão diversas e abrangentes, os professores atuais devem possuir determinados atributos que permitam a eficácia do seu desempenho, e que passam por:
– Ter capacidade de comunicação e promover relações genuínas com toda a comunidade escolar, transportando para a sala de aula um ambiente de convívio e trabalho justo e democrático, permitindo que estas se transformem em salas de aula recetivas e igualitárias.
– Ter uma boa base de conhecimentos científicos que, por um lado, lhe dê alicerces intelectuais, perspetivas de investigação e vontade de canalizar as suas energias para melhorar a sua capacidade como docente, e por outro lado, oriente a sua prática dentro e fora da sala de aula, mostrando um controlo de informação sobre as matérias específicas que leciona e que deve dominar de forma esclarecida, segura e eficaz.
– Conhecer as especificidades dos seus alunos, como o médico conhece as patologias dos seus doentes, já que a escola não é mais uma comunidade homogénea e não existem receitas nem fórmulas mágicas.
– Ser detentor de um conhecimento pedagógico que lhe permita “tratar” estrategicamente a diversidade e a heterogeneidade dos seus alunos. Deve ter um conhecimento de gestão e organização da sala de aula.
– Usar um repertório de estratégias e de processos, de métodos e competências que lhe permitam desempenhar com sucesso os diversos aspetos do seu trabalho.
Assim, o professor atual desenvolve o seu trabalho em volta de três funções essenciais: Liderança (acompanha, motiva e orienta a aprendizagem); Instrução (métodos e processos que proporcionam a instrução e evolução diária dos alunos); e Organização (trabalho que realiza com toda a comunidade escolar, de modo a planear e coordenar as diversas actividades).
O último aspeto a considerar nesta estratégia de crescimento profissional, diz respeito à reflexão e resolução de problemas, já que a eficácia do professor passa por abordar situações particulares com uma atitude de resolução que resulta da reflexão e aprendizagem sobre a sua própria prática.
Esta sequência avaliativa faz com que a aprendizagem da arte de ensinar, se torne num processo ao longo da vida, (composto pelas fases de sobrevivência, situação do ensino e fase da mestria e resultados), durante o qual se vão definindo estilos próprios que resultam de um exercício de reflexão e de juízos críticos, transformando-se assim, na alavanca propulsora de novos métodos, novas aprendizagens, novos conhecimentos, quer para alunos, professores e instituições. Esta sequência permite a “passagem de testemunho” dos mais competentes para os principiantes, consolidando assim um ritual de aprendizagem e transmissão de saber.
“Para nos tornarmos bons professores precisamos de muito tempo e de compreender que aprender a ensinar é o processo de uma vida”[2]
Rosa Neves
[1] ARENDS, Richard, I. – Aprender a Ensinar – 7ª Edição – Mc Graw Hill, Madrid, pag , 12
[2] ARENDS, Richard, I. – Aprender a Ensinar – 7ª Edição – Mc Graw Hill, Madrid, pag. 28